Por Demetrius Faustino*
Sua majestade o Carnaval, que num passado distante já foi uma festa reprimida e hoje é um megaespetáculo, sempre mereceu nossa admiração, especialmente pela beleza dos desfiles dos blocos carnavalescos e das escolas de samba.
É nessa festa que reina o espírito democrático, pois é o povo quem se investe da energia carnavalesca e faz aqueles dias serem de desregramento, desvario, e de fuga da realidade.
O carnaval passou por diversas fases antes de chegar na configuração atual, passando de alaridos e bailes de máscaras a desfiles camuflados de procissões religiosas. Com o seu crescimento veio o resplandecer das fantasias, a cadência, o conjunto, a harmonia e evolução perfeita das alas das escolas de samba, sem esquecer da bateria cuja batida sensibiliza. Sem olvidar também da euforia, vitalidade e criatividade dos foliões nos blocos de Recife e Olinda, a terra do frevo, a alegoria do Galo da Madrugada, reinando na Ponte Duarte Coelho e o carnaval dos afoxés, dos blocos afro e trios elétricos que completam a tradição do carnaval baiano.
Mas não podemos nos isentar de dizer também, que em toda essa riqueza que compõe o nosso patrimônio cultural, que traz junto arrastões, roubos e furtos de celulares e assédios, alguns se apropriam ilicitamente, movimentando cifras multimilionárias, e não se prestam contas com clareza para a sociedade sobre os recursos financeiros recebidos, sobre governança, sobre as escolhas, sobre coisa alguma. A feitura das fantasias, dos carros alegóricos, a contratação do pessoal, a gestão da festa do rei Momo, enfim, tudo isso é assustadoramente oneroso.
Aliás, vale destacar, que a Escola de Samba União Cruzmaltina, considerou homenagear num carnaval o ex-governador Sérgio Cabral, com seus mais de 400 anos de condenação por corrupção em 23 processos, sendo réu confesso para ter direito à diminuição da pena. Ou seja, a agremiação quis exaltar a trajetória de alguém que desviou uma carreta de recursos da saúde pública, do saneamento básico, e da moradia. Ainda bem que após um categórico alerta, esse fato não se consumou, restabelecendo-se o mínimo de prudência.
Mas apesar desses pesares, o brasileiro se contagia festejando o carnaval, e até a quarta-feira de cinzas, ele vive sob efeito de anestésico social, imperando a folia. Tanto é verdade, que em dado momento uma máxima popular decretou que o ano só começa após o carnaval.
O fato é que, seja para quem curte a folia ou para quem aproveita este grande feriado para descansar, é fato que o carnaval é uma das expressões culturais mais festejadas e aguardadas por muitos brasileiros.
João Pessoa, fevereiro de 2024.
*Demetrius Faustino é escritor, filósofo e ensaísta paraibano