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Como ter uma Conversa Difícil?
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Publicado em 28/06/2024

Por Eunice Porto*

Quando temos que ter uma conversa e sabendo que é um tema difícil a ser abordado sem que haja conflito, é necessário observar previamente alguns aspectos para que essa comunicação seja assertiva, amistosa e respeitosa ao mesmo tempo e para isso:

1) Quem dentro de mim está se incomodando com esse tema? Ao se observar e permitir responder honestamente, abrimos espaço para a manifestação dos diferentes EUs que nos habitam, pois muitas vezes queremos falar sobre a perspectiva do EU Controlador, do Racional, do Dependente entre outros, mas o que deve ser rigorosamente analisado é o EU Criança Interior que em muitos momentos quer ter ou manter o desejo de ser prioridade e quando estamos sob o domínio inconsciente dela, por mais que o outro esteja disposto a levantar a bandeira da paz, como não estamos no EU Adulto, ela é quem decide o rumo da conversa.

2) Abrir a escuta e tentar reconhecer quem pode estar no comando do outro naquele momento pois as conversas que iniciam a partir do EU criança interior, dependendo da idade e sabendo que normalmente não passa de 4 a 5 anos, a razão é sempre dela e como não reconhece que está errada, vai fazer o possível para tentar convencer que é a vítima da situação e nesse caso é preciso saber que você não é a vítima e o outro também não.

A partir dessa consciência, assumimos a parcela que nos cabe e com autorresponsabilidade não caímos no jogo de manipulação da criança interior ou a do outro e mesmo que ela tente nos colocar no lugar do lobo mau ou algoz não permitimos; percebemos o jogo e deixamos de lado sem gerar impactos negativos, mas se entrarmos no jogo nos perdemos nele e nos desculpamos mesmo que intimamente estejamos questionando se está mesmo certa e mesmo sentindo uma dor no peito, ao final, nos sentimos culpados.

3) Após ter a certeza de que falamos a partir do EU Adulto, precisamos abrir mão de achar que temos que convencer alguém de que nossa opinião é a correta; pois não é necessário perder tempo e energia na tentativa de convencer o outro em relação a minha perspectiva, é preciso termos a certeza de estarmos sendo ouvidos e respeitados mesmo sem concordar com seu Ex ponto de vista.

4) É preciso abrir mão de buscar a concordância do outro; ninguém precisa concordar com o que está ouvindo mas é preciso aceitar a opinião do outro, lembrando que o chato é chato porque ninguém falou pra ele ou seja, minha perspectiva jamais passou pela cabeça ser uma possibilidade, sabendo há dois caminhos; a)continuar fazendo algo que me incomoda, mas para ele não tem problema algum e nesse caso eu preciso escolher se permaneço com essa pessoa que não está nem aí para o que eu penso e sinto, b)abrir mão dessa relação por respeito a si mesma, já que essa pessoa não tem a menor noção do que seja isso.

5) Lembre que uma relação é feita a dois e que a metade da responsabilidade pelo lugar em que ela se encontra é de ambos. Quando somente um é responsabilizado ou se acha o único responsável, carrega algo que é dos dois e fica extremamente difícil seguir com este peso, o afastamento é inevitável pois normalmente ele vem junto com um eu devo a você ou você me deve, exigindo do outro a compensação de alguma forma. nesse caso as conversas difíceis são adiadas pois eu preciso aguentar por mais tempo e tento por mais tempo afinal de contas, eu devo e você não.

Toda vez que estou tentando ter uma conversa difícil sem observar estes aspectos, não estou no comando como EU Adulto e sim pela Criança Interior, desse modo espero que o outro me entenda e atenda minhas necessidades; assim está estabelecida a desordem pois muitas vezes, são duas crianças tentando receber do mesmo jeito o que lhes falta: atenção, aceitação, afeição e apreciação (reconhecimento) sendo assim a conversa já inicia enviesada, com dois supostos adultos agindo na defensiva e armados até os dentes totalmente prontos para atacar. Qual a chance?

(Foto: Acervo Pessoal)

*Doutora Eunice Porto é psicóloga - contato (Instagram) - @euniceportoreal

 

 

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