A AgroVen, rede de apoio à inovação no agro com 250 membros, e a MIT Sloan Management Review Brasil, revista de administração de empresas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) realizaram um estudo inédito sobre o futuro da pecuária brasileira que mostrou quais as principais oportunidades e desafios para o setor, analisando três frentes: gestão, tecnologia e sustentabilidade/ESG (inclui bem-estar animal).
O levantamento contou com a participação de pecuaristas, representantes de startups e especialistas nas frentes escolhidas como: Anderson Fernandes, Fazenda União do Brasil; Gabriel Cid, Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ); Joanita Maestri Karoleski, do Fundo JBS pela Amazônia; Marta Giannichi, MyCarbon/Minerva; e Teresa Vendramini, Fazenda Jacutinga, entre outros.
De acordo com a publicação, na pecuária bovina, os grandes players estão na vanguarda da gestão, mas os demais ainda realizam a atividade de modo extensivo, tendo pouca familiaridade com a tecnologia e com baixa capacidade de perceber e gerenciar riscos. Dessa forma, foram identificados três pontos de melhoria de gestão: uso de ferramentas digitais que organizam dados para auxiliar na tomada de decisões; proatividade ecossistêmica e educação contínua.
A gestão da propriedade inclui aspectos antes impensados, segundo Vendramini, associados, por exemplo, à responsabilidade ambiental, como o uso mais racional da água e o melhor manejo de dejetos – que devem ser reutilizados para outros fins, além da rastreabilidade e o bem-estar animal.
Rastreabilidade - A solução de rastreabilidade é hoje uma das principais demandas do setor. E não só por exigência do consumidor final, que começa a ter interesse em saber a origem do que consome. É uma questão de compliance, afirma o estudo. O sistema de rastreamento SafeBeef da iRancho é um dos utilizados pela Fazenda União do Brasil para praticar uma economia circular e reforçar sua estratégia em direção a um produto mais premium.
A fazenda utiliza várias ferramentas, e mostra como uma tecnologia acaba, na prática, induzindo o uso de outras. “Estamos implantando as tecnologias aos poucos”, conta Anderson Fernandes, médico veterinário responsável pela pecuária na fazenda. “Primeiro foram os chips eletrônicos por bluetooth nos animais, que facilitam o controle. Então, veio o software de gerenciamento de rebanho, técnicas de manejo e bem-estar e o controle pelo celular.”
Genética - A evolução genética tem permitido a criação de animais mais resistentes e mais produtivos. Isso significa que os pecuaristas têm à disposição animais mais saudáveis, capazes de enfrentar os desafios impostos pelo ambiente de forma mais eficaz. “Atualmente, o Brasil ocupa uma posição de destaque nessa área, sendo reconhecido internacionalmente no desenvolvimento de técnicas e pesquisas genéticas aplicadas à pecuária zebuína. Somos líderes mundiais no fornecimento de carne bovina, os maiores exportadores de carne”, afirma Cid.
O boi e o efeito estufa - Embora haja muitos casos de fazendas alinhadas à sustentabilidade, frequentemente a pecuária brasileira é apontada como uma das maiores emissoras de carbono do mundo indo na direção contrária à das responsabilidades ambientais, sociais e de governança (que atendem pela sigla ESG, em inglês). Isso porque a flatulência e a eructação do gado vão para a atmosfera na forma de gás carbônico.
Porém, algumas soluções estão sendo desenvolvidas, muitas ainda em nível de teste, para reduzir a fermentação entérica do rebanho como aditivos na ração ou na água para que o animal emita menos metano, explica Giannichi.
Outro exemplo vem de players da cadeia que promovem a recuperação de áreas degradadas e apoiam modelos inclusivos e rentáveis que geram valor para a floresta em pé, gerando créditos de carbono e outros benefícios para a bioeconomia.
No estudo foram elencadas quatro frentes onde avanços em ESG já podem ser feitos: recuperação de pastagens degradadas, mentalidade de créditos de carbono, compartilhamento de riscos e benefícios, e integração lavoura-pecuária-florestas.
Mas, o estudo também aponta que há fatores de desaceleração em paralelo, a dificuldade de romper a barreira de acesso à tecnologia, algumas vezes por falta de recursos e outras por falta de educação, principalmente pelos pequenos produtores. São indicadas algumas soluções no médio e longo prazo como cooperativismo e cursos específicos para sucessores, além de assistência técnica promovida pelos frigoríficos a fim de modernizar toda a cadeia e o acesso a ecossistemas de inovação e crédito específico para adoção de tecnologias.
O estudo completo pode ser acessado em: https://agroven.com.br/o-futuro-da-pecuaria/